São Francisco de Assis de Ouro Preto

ei-la: 

a Porciúncula do Novo Mundo, a armadilha pro poeta agnóstico, 
o traço inventivo da mão aleijada, o risco antropofágico ante o modelo 
da Metrópole, a cornucópia de gracejos e quimeras, o produto mestiço 
do vale do Tripuí

o Cântico das Criaturas em pedra-sabão, a transfiguração da matéria tropical, a porosidade da pedra a serviço da aporia espiritual, 
a policromia da penitência e da ilusão, o pigmento mineral a serviço do etéreo, o resultado estético do conflito entre guerra e paz 

o portal pro Éden refeito em flores e seres alados, o degrau onde o poverello ostenta sua caveira, a nave cujo teto se abre e revela a Madonna dos Anjos mulata de Ataíde  a ancestral das mulatas 
de Di Cavalcanti 
o êxtase franciscano vazado no céu colonial, a trovoada do Alverne ecoando na penha do Itacolomi... 

– expressão secular, muda e sentimental 
contradizendo a alegoria esculpida em seu lavabo; 
a fé cega vê, através das vendas, 
a beleza: 
a perfeita alegria na periferia da América, na porção saqueada 
do Hemisfério Sul;
 
o início da arte do meu país,
que ainda não.

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